Tenho lido (e visto) muita coisa sobre capitalismo consciente e cada vez mais isso impacta no minha forma de ver e viver a vida. Nesse mergulho, John Mackey tem sido um nome forte e recorrente, ás vezes até um pouco polêmico. Fato é que ele é considerado um dos maiores responsáveis pelo movimento orgânico ter atingido o mainstream nos últimos anos.
Enquanto minha pesquisa no tema ainda se estende pra compor quem sabe um dia minha dissertação; por aqui, por ora, fica um post pra entender melhor uma das maiores figuras deste movimento.
John Mackey nasceu no Texas e pode-se dizer que teve sua juventude bastante influenciada pelo ao movimento hippie nos anos 1970. Em sua adolescência e seus estudos, Mackey sempre defendeu que as pessoas deveriam estudar aquilo que realmente tivessem interesse, independente de que faça sentido para uma futura profissão formal ou não (um pouquinho como esse site, né não..) No caso dele, seus estudos foram feitos no campo de filosofia e religião – ele defende que foi esta abordagem generalista quanto à carreira que o diferenciou para ser bem sucedido – hoje Mackey é considerado o Bill Gates da comida orgânica.
Apesar de iniciado três diferentes universidades, ele largou os estudos e foi morar em uma moradia compartilhada em uma comunidade vegetariana, onde conheceu sua então namorada Renee Lawson (hoje, Renee Hardy). Na época prevista para sua graduação, John havia pedido um empréstimo de U$10 mil doláres ao pai, conseguido U$35mil em investimentos, e junto com seu namorada abriu um dos primeiros mercados naturais, o SaferWay.
SaferWay teve bastante visibilidade em seu início, foi uma das primeiras lojas com este foco em Austin. Na época, havia o mercado no primeiro andar, um restaurante vegetariano no terceiro e uma cama no terceiro, onde Lauren e John moravam. Apesar disso, era uma loja verdadeiramente natural – eles não vendiam produtos que continham cafeína, açúcar, alcool ou farinha branca. Em um ano, eles perderam metade de seus investimentos e avaliaram que “If your philosophy is too Puritan, you can’t do enough business to be successful.”
Dois anos mais tarde, John e Lauren se juntaram com Mark Skiles and Craig Weller para o desafio de levar o seu mercado natural a uma grande escala e com uma visão mais abrangente – “We decided we were not going to be Holy Foods Market, that we were gonna sell foods our generation wanted to buy -still organic, still no artificial flavorings, colorings, or preservatives, and still focused on health–just not in a “full of judgment” way.” Assim, nasceu o Whole Foods – 36 anos depois Whole Foods se tornou um gigante, com mais de 400 lojas, 8 mil empregados e um faturamento estimado em $12 bilhões de dólares. Mas para Mackey, ele jamais poderia acreditar que seriam tão grandes.
Ainda que de início do Safer Way até Whole Foods houve algumas mudanças – o propósito do negócio continuou (e continua forte). Ele acredita que é dever do empreendedor definir o propósito e atuar de acordo com ele e não apenas em busca do lucro. Para ele “Não há nenhum motivo aparente por que um negocio não possa ser ético, responsável socialmente e lucrativo.”
Em uma analogia simples, ele afirma em podcast do Social Innovation Channel “se você perguntar para um médico, ele não fala que seu propósito é ganhar dinheiro – o propósito de um médico é cuidar da saúde das pessoas; se você perguntar para um arquiteto, ele também não fala que seu propósito é ganhar dinheiro – seu propósito é projetar casas e edifícios. Todos eles tem como objetivo final gerar lucro, é claro, mas esse não é seu propósito. Então porque nós (como sociedade) temos tendência de acreditar que o propósito de um empreendedor é simplesmente ganhar dinheiro?”
Grandes companhias, possuem grandes propósitos.
Abaixo, em sua apresentação no TEDMed, John explica um pouco de sua visão, propósito e práticas dentro da Whole Foods.
Sua postura social e eco-friendly muitas vezes o fez ser chamado de socialista, até mesmo anarquista, mas Mackey é um verdadeiro capitalista. Ele acredita que o capitalismo foi a melhor invenção de toda a humanidade e o gatilho para todo o tipo de progresso. Ainda assim, se diferencia por acreditar que o modelo capitalista como existe hoje não faz mais sentido – e o sua evolução é um modelo de capitalismo consciente.
Mackey é co-autor do Conscious Capitalism: Liberating the Heroic Spirit of Business onde discorre sobre o tema e casos de outras importantes empresas que já atuam neste modelo como Southwest Airlines, Google, Nordstrom e Patagonia. Se trata de uma nova maneira de se fazer negócios buscando relações de win-win, para clientes, fornecedores e stakeholders, muito diferente da lógica atual onde – se alguém está se dando bem, alguém deve estar se dando mal o que, explica, não é a realidade “nossa experiência mostra que fornecedores e funcionários satisfeitos prestam um serviço melhor, e isso deixa os clientes felizes. E clientes felizes são a melhor publicidade para um negócio — e isso beneficia os acionistas.”
O papel da liderança em um modelo de capitalismo consciente é servir ao propósito do negócio, fortalecendo sua visão. Com este mindset é dever do empreendedor a procura por parcerias mútuas e não por transações pontuais, a “escolha por sinergia é a escolha dos grandes líderes”.
“We believe that business is good because it creates value, it is ethical because it is based on voluntary exchange, it is noble because it can elevate our existence, and it is heroic because it lifts people out of poverty and creates prosperity. Free-enterprise capitalism is the most powerful system for social cooperation and human progress ever conceived. It is one of the most compelling ideas we humans have ever had. But we can aspire to something even greater.”
John Mackey