Essa semana a Veja nos fez o desfavor de publicar uma reportagem que mais parecia ter saído de um daqueles tablóides americanos. Tenho dificuldade de conceber que uma das maiores revistas do país não tenha pautas mais relevantes pra semana que tivemos e apresente um artigo tão desconexo do momento que o Brasil vive. Tudo seria mais pertinente do que exaltar o perfil da “quase-primeira-dama” em suas páginas. Mas essa não é a primeira vez e — sinto dizer — não será a última vez que a Veja erra no timing, na pauta, tom e na abordagem. A gente sabe disso.
Em pouco tempo, surgiu a hashtag — maravilhosa — ironizando a classificação de “bela, recatada e do lar” atribuídas à Marcela Temer. Achei lindo! Achei lindo na mesma hora, o dia inteiro e até o dia seguinte. A cada #belarecatadaedolar que aparecia em meu feed eu curtia e sorria feliz por ter tantas amigas bem resolvidas, ousadas e livres!
Livres.. — foi aí que comecei a repensar. A crítica, mais do que necessária, à revista que estereotipou o “perfil ideal” para uma primeira-dama, rapidamente se transformou em uma crítica à mulher Marcela Temer. De repente, as escolhas da Marcela Temer se tornaram uma ofensa ao feminismo e pauta para discussão nacional. E não é justamente isso que nós, mulheres, não queremos?
Sheryl Sandberg, COO do Facebook e autora do Lean In, inicia suas palestras onde empodera executivas deixando claro que não existem escolhas fácieis para mulheres “quer você esteja em casa ou esteja nas empresas, eu não conheço uma só mulher que não se sinta culpada. Não existe um caminho certo para todas e a minha palestra é para aquelas queescolheram permanecer no mundo corporativo.” Foi essa empatia e, sobretudo, esse respeito pelas escolhas de cada uma que se perdeu em meio aos memes. O fato de que as escolhas de cada uma ainda nos limita e nos rotula à mulheres pervertidas ou reprimidas, até mesmo entre nós, é um retrocesso.
Uma das mulheres mais maravilhosas e bem resolvidas que conheço nunca teve o sonho de ser uma grande executiva, apesar de ter tudo o que precisaria pra ser. Pra ela, sucesso e felicidade é poder ser, um dia, mãe full-time. Isso é liberdade. Ela é livre o suficiente pra poder se conhecer, se aceitar e pra não ter problema nenhum em expor isso, mesmo em um meio que ainda temos tanto preconceito com as escolhas de uma mulher.
Eu poderia fazer um livro das mulheres incríveis e inspiradoras que tenho o privilégio de conhecer e que fazem a vida por suas próprias regras (Capítulo 1: Minha mãe, Rosana). Como dizem, a gente sempre sabe quem são as mulheres fortes, são elas que estão tentando sempre empoderar as outras ao invés de diminuí-las. Então, que tal tentarmos isso?
Pra que a gente possa ser bela, de uma maneira própria e única; recatada ou escândalosa; do lar, do bar, do congresso nacional, da diretoria executiva, da pesquisa científica, do esporte, da esteticista, do personal trainer, da ONU. Desejo à mim e à você, auto-conhecimento pra entender o que faz sentido pra sua vida, coragem pra não ter medo de viver do seu jeito, e respeito pra aceitar as escolhas do que cada uma quiser.
Testo originalmente publicado no Medium.