Entre os lugares que me fascinam, as Exposições Mundiais tem um espaço único (especialmente Sevilha). Pouco é falado, mas o evento é considerado o “terceiro maior evento do mundo em importância (atrás apenas dos Jogos Olímpicos e Copa do Mundo) primeiro em tempo de duração e projetos de inovação, cultura e educação.” – o que me faz pensar porque não é considerado o primeiro.. De qualquer forma, no mundo urgente e sem fronteiras que vivemos ás vezes pode nos fazer esquecer de uma época onde a comunicação e a propagação de novas tecnologias era muito mais demorada e complicada, sem trocas ou envolvimento com outros ambientes culturais. O quão cruciais as exposições foram – e são – para nossa inovação, criatividade e desenvolvimento como sociedade? Não por acaso, são chamadas de feiras do progresso, exposições universais-mundiais-internacionais, festas da modernidade ou simplismente Expo.
- Pavilhão do Reino Unido na Expo Milão 2015, por Laurian Ghinitoiu
A exposição teve origem na Inglaterra. Príncipe Albert, marido da rainha Vitória, era desde 1843 responsável pela Real Sociedade das Artes. Ele acreditava que arte e ciência poderiam ser os verdadeiros propulsores para economia e organizava anualmente exposições nacionais para gerar esse encontro. Em1851, ele apostou em uma idéia um pouco mais ousada – fazer a primeira exposição internacional já vista na história. Alguns historiadores dizem que o seu objetivo era expor e impressionar o mundo os grandes avanços da Inglaterra, outros como Arthur Efland, acreditam que a rivalidade britânica e francesa, especialmente em design, que impulsinou sua idéia e ainda mais alguns acreditavam que Albert queria mesmo era identificar e corrigir deficiências competitivas do país que – apesar de atual líder econômico – não tinha fundamentos claros que justificassem sua posição.
Na própria Inglaterra a idéia gerou polêmica, o príncipe foi duramente criticado na Câmara dos Lordes onde acreditavam que ele estaria expondo o país e abrindo as portas para que “revolucionários estrangeiros” destruíssem a moral, os costumes e a cultura britânica. Ele foi em frente com foco em “exposição, competição e incentivo”, valores que ele acreditava para o evento. Hoje é certo dizer que, por fim, ” as exposições condensaram o que o século XIX entendeu como modernidade: o progresso construído sobre a ciência e a indústria; a liberdade entendida como livre mercado; o cosmopolitismo baseado na idéia de que o conhecimento humano e a produção seriam transnacionais, objetivos e sem limites.” No dia 1 de maio de 1851, a rainha Vitória inaugurou o que foi então chamada de “A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações” no Palácio de Cristal, no Hyde Park. O Palácio de Cristal é um capítulo à parte – considerado o marco para uma nova era na história da arquitetura. Não só pela beleza, o palácio – construído em apenas 6 meses, com uma estrutura inovadora de ferro e vidro – se tornou a “maior revolução arquitetônica desde Roma“.possuía 30 metros de altura e 70 mil m² (equivalente a pouco mais do que 8 campos de futebol). Era a “catedral da sociedade industrial moderna”. Na fase de planejamento, havia sido alinhado que o Palácio seria demolido uma vez que a exposições tivessem acabado, mas a construção se tornou um monumento cultural. Suas proporções culturais e sociais foram importantes que, ao final, se tornou o “Winter Park and Garden under Glass” palco de cultura e entretenimento para quase 2 milhões de visitantes anuais.
A história do palácio, infelizmente, teve um final trágico. Grandes tempestades, acidentes e problemas financeiros o levaram à falência em 1911. Em 1936, um grande incêndio destruíu grande parte do palácio. “This is the end of an age”, disse Winston Churchill.
Mas a bagagem cultural da exposição de 1851 não se perdeu. Com a participação de 32 países e mais de 6 milhões de pessoas, a Grande Exposição foi um sucesso. Foi o primeiro grande evento mundial de intercâmbio cultural. Por seu incentivo à participação, atuação e visão global entre os países, é indicado como semeador da fundação da antiga Liga das Nações. Todo seu lucro foi usado para investir em instuições educacionais e culturais britânicas, como por exemplo o Victoria and Albert Museum, considerado por muitos até hoje o melhor museu de arte e design do mundo. Como se isso não fosse suficiente, a Grande Exposição se tornou a primeira de muitas.
Desde “A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações”, aconteceram 9 exposições mundiais no século XIX, 12 no século XX – uma delas a primeira e única realizada no Brasil, no Rio de Janeiro em 1922 – e 4 atualmente, sendo a última em Milão (2015) e a próxima em Dubai (2020). A partir 1929, o Bureau International des Expositions – BIE se tornou o orgão responsável pela realização das feiras.
As 16 edições foram palco para outras muitas das grandes inovações e monumentos; como o projeto do Canal de Suez e prensas hidráulicas (Londres 1851); telefone de Graham Bell e máquina de escrever Remington (Filadélfia 1876); construção da Estátua da Liberdade e máquina de costura ( Paris 1878) e própria Torre Eiffel (Paris 1889).
A Torre, assim como o Palácio de Cristal, também foi alvo de polêmica. A obra de Gustave Eiffel, apesar de ser um monumento e considerada a construção mais alta do mundo na época, era chamada de “Torre de Babel” e não teve apoio dos parisienses da arte; “Nós, escritores, pintores, escultores e arquitetos apaixonados pela beleza até agora intacta de Paris, protestamos com todas as nossas forças contra a construção em pleno coração de nossa capital da inútil e monstruosa Torre Eiffel”, dizia o abaixo-assinado publicado no jornal Le Temps em fevereiro de 1887. Com sua obra-prima com risco de ter a construção cancelada, Eiffel fez um apelo para que aguardassem o final da construção para julgar. Assim como o Joseph Paxton, Gustave Eiffel estava certo sobre sua obra – hoje a Torre Eiffel é o maior símbolo da França, recebe 7 milhões de turistas anualmente e é o monumento pago mais visitado do mundo.
A primeira participação brasileira foi em 1862, com grande incentivo de Dom Pedro II, na Exposição Universal de Londres. Acredita-se que seu objetivo era atrair imigrantes e investidores, além de envolver o país entre as nações chamadas de “civilizadas” da época. Para seleção do que seria levado, foram organizadas feiras regionais e nacionais que elegeram guaraná, açúcar, cacau, mandioca, fumo e principalmente a indústria cafeeira como foco da exposição brasileira.
Em 1889, em Paris, o Brasil explorou a flora com um lago artificial e vitórias-regias apresentando uma experiência sensorial – sim!!! Em pleno 1889!!! Achei lindo também!!! – aos visitantes. Sempre com uma preocupação em mostrar o potencial brasileiro, diminuindo a imagem de “apenas mais um país exótico”.
Na última feira, em Milão, o pavilhão do Brasil foi destaque e considerado o terceiro melhor pavilhão da exposição, pela Arch Daily, maior site de arquitetura do mundo, ficando apenas atrás da Inglaterra e Aústria. O projeto (realmente fantástico- vale clicar no detalhe) foi desenvolvido por Arthur Casas em parceria com o Marko Brajovic e explorou o tema “Brasil: Alimentando o mundo com soluções”.
- Pavilhão do Brasil na Expo Milão 2015, por Laurian Ghinitoiu
Em 2013, o Brasil candidatou São Paulo para a eleição da nova sede da Expo, sem sucesso, e com protestos – segundo os manifestantes, o projeto em Piratuba custaria R$ 24 bilhões aos cofres públicos. Ainda assim, é bonito ver lá fora o país se destacando em design e inovação em um evento tão relevante pra cultura, sociedade e história das nações.
Dom Pedro II estaria orgulhoso.
Nos vemos em 2020.