Diana Vreeland

Famosas por suas personalidades,  visões originais e senso apurado para tendências, Anna Wintour, Emanuelle Alt e Anna Dello Russo hoje  são nomes com enorme influência no mundo da moda. A força das editoras da Vogue EUA, França e Japão se deve, em partes, ao legado da “Imperatriz da Moda”como era chamada e, como foi chamada também, uma de suas biografias – Diana Vreeland, que reinventou a concepção do que é ser uma editora de moda ao mesmo tempo em que reinventava toda a indústria que a rodeava.

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Diana nasceu em plena Belle Époque, em Paris no ano de 1903 o que, segundo ela, essa era uma parte essencial de seu sucesso – quando perguntada como alguém poderia desenvolver um olhar único, como o dela, frequentemente afirmava  “The first thing to do, my love, is to arrange to be born in Paris. After that, everything follows quite naturally.”  Ainda assim, Diana se mudou cedo para Nova York  quando teve início a I Guerra Mundial.  Cresceu mergulhada em cultura e sempre presente em diversos círculos da alta sociedade.

Apesar de sua uma infância movimentada, Diana cresceu em um ambiente frio com pouco afeto, sendo muito criticada pela mãe que a julgava o patinho feio da família e não escondia sua preferência por outra filha, Alexandra. “Parents, you know, can be terrible.” – dizia. Em Nova York, Diana completou apenas três anos na escola e se considerava impaciente demais para o formato entediante das aulas e optou por estudar ballet russo. Segundo ela, foi com seu professor Michel Fokine que ela desenvolveu senso apurado para disciplina.

A realidade em que vivia impulsinou Diana para que criasse seu próprio universo; ela escapava de sua vida real  e criava histórias repletas de imaginação (desde a infância até o fim da vida) que hoje são contestadas por historiadores  . Seu próprio nome, até hoje, é um misto de fantasia – ninguém sabe ao certo se a pronúncia seria Dee-ah-nah, Dye-ann-uh ou Dee-ahn. Mistérios que fazem parte dos seus famosos “Faction” (fact + fiction) – como ela mesmo se referia ao seu misto do real e imaginário, tornando ainda mais extraordinária a vida da impetriz da moda.

Em 1924, Diana se casou com o Thomas Vreeland, um proeminente banqueiro, e  com a crise de 29, mudaram-se para Londres. Lá ela continuou com uma vida de privilégios e abriu um pequeno negócio de lingeries. Diana era frequentadora (e fã) da Maison Chanel – dizia que o melhor de Londres, era Paris – e  a própria Coco Chanel se referiria à ela como “a mulher mais diferenciada que já conhecera”. Com muitos pontos em comum (inclusive a mania de Faction) acredita-se  que se “se  Coco Chanel reinventou como a mulher se vestia no século 20, introduzindo modernismo e a simplicidade chic; então Diana Vreeland transformou a idéia do porque nos vestimos, com sua visão original e criativa sobre a arte da moda” 

Foi, também, com um vestido branco Chanel em 1936 que Carmel Snow – então editora-chefe da Harper’s Bazaar – conheceu Diana em uma festa no hotel St. Regis, se surpreendeu pela sua originalidade e, ali mesmo, ofereceu a ela um emprego como colunista. Diana, supresa, dizia “But Mrs Snow, I have never set foot in an office in my entire life. I don’t get dressed until noon.”  Ela apenas considerou e aceitou a oferta porque precisava de dinheiro – apesar de ser parte da alta sociedade o estilo de vida que levava estava muito acima da sua real situação financeira.  A sua coluna “Why don’t you…” fazia um contraste do contexto de tensão mundial decorrentes do nazismo, do qual ela nunca opinou e desconsiderava os temas políticos, dizia que não estavam à seu alcance e critério. Segundo seu filho Tim, Diana não tinha senso de certo ou errado, ela achava as coisas interessantes ou desinteressantes. Só isso. Em sua coluna, Diana dava conselhos irônicos e inusitados que retratavam bem sua essência –  ora, não seja apenas ordinário e sem graça. Porque não tentar ser ousado e transformar-se em algo formidável?

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Em pouco tempo, a colunista foi promovida à editora de moda e revolucionou o significado de sua função. Antes dela, o jornalismo de moda era feito por socialites, para socialites. As edições focavam em tornar mulheres melhores esposas. Diana não acreditava em nada disso. Para ela, moda era uma forma de afirmação cultural e mergulhou em temas como artes, comportamento, música e literatura. Ela trouxe vida à revista. O fotógrafo Richard Avedon acredita que foi ela começou “a totally new profession.”

Foi responsável por popularizar o animal print, o jeans e a foi a primeira editora à fotografar um biquíni – que, constumava dizer, “foi a melhor invenção do século, depois da bomba atômica“. Com sua própria equipe escandalizada com sua ousadia,  ela dizia “Com uma atitude dessas, vocês mantêm a civilização atrasada uns mil anos!!” Suas produções extrapolavam a imaginação, fronteiras e, muitas vezes, o orçamento esperado. Era realmente uma workholic, criava incansavelmente e  almoçava apenas um rápido sanduíche de pasta de amendoin com whisky e cigarros. Depois de 28 anos (com o mesmo salário) na Harpeer’s Bazaar, Carmel Snow se aposentou e a escolhida para ser sua sucessora foi sua sobrina,  Nancy White. Diana não escondeu sua indignação “We needed an artist and they sent us a house-painter.” 

Em 1963, Diana assumiu o posto de editora-chefe da Vogue Americana. Sua história na revista foi marcada por ser um a incentivadora de novos e jovens talentos, como Mick Jagger e Diane Von Furstenberg. Ela enxergava antes mesmo que eles se enxargassem, segundo ela, isso era parte do seu trabalho como editora.

O exagero e a excentricidade de Diana transbordaram nas páginas da Vogue cultura pop, discussões por direitos civis, pílula anticoncepcional e a beleza original e exótica. Diana acreditava que você não tinha simplismente que nascer bonito para ser uma pessoa atraente e incentivou novos e incomuns padrões de beleza a se destacarem, como Twiggy, Angelica Huston e Barbara Streisand quem ela fez questão de destacar, ao invés de disfarçar, seu “nariz de Nefertiti” como o chamava. Ela afirmava que o exagero era sua única realidade.

Diana se tornou um ícone. Kay Hays, também editora que trabalhou com nomes como Edna Woolman Chase, Daves, Vreeland, Mirabella, e Anna Wintor afirmava que  “She was my most difficult editor. But there was never any fashion at Vogue until Diana Vreeland arrived.” O fotógrafo Norman Parkinson afirmava que “Mrs. Vreeland was always in there punching for the impossible and the unattainable. When her ideas succeeded, they were triumphant.If not, there were no postmortems.” Muitos acreditam que, apesar de brilhante, ela jamais deveria ter sido editora-chefe. O seu grande diferencial da imaginação extraordinária e sem limites logo se chocaram com o limitado orçamento e necessária visão de gestão da revista. Diana ignorou os avisos. Na primaveira de 1971, Diana Vreeland foi despedida.

O grande choque logo deu lugar ao período mais fantástico da sua carreira.“Eu tinha 70 anos, o que esperavam que eu fizesse? Me aposentasse?”

Diana assumiu a curadoria do Costume Institute do Metropolitan Museum of Art (MET)  em Nova York onde foi finalmente livre pra criar seu mundo de fantasias extraordinárias que sempre almejou. Ela dizia “The trouble with this country [is that] they want to give the public what it wants. Well, the public wants what it can’t get, and it’s up to the museum to teach them what to want.” 

Apesar de alguns receios da academia por Diana ser uma curadora sem ter tido educação formal, logo mostrou a que veio. Já em sua primeira exposição “O mundo de Balenciaga”, bateu recorde de público e teve destaque para os novos rostos que atraiu e começaram a frequentar o museu.  Diana colocou o MET no mapa da moda. Seus visitantes mergulhavam em um passeio de história e cultura por suas lentes originais. Diana que era, ela própria, uma atração a parte. Seu neto, Alexander Vreeland diretor de marketing da Giorgio Armani, afirmou “My grandmother is no longer a person. She’s an adjective” A visibilidade que proporcionou à história da moda e vestuário e engajamento de um novo público na curadoria é considerado um dos seus maiores legados.

Em 1984, Diana começou a adoecer e permaneceu mais reclusa em seu apartamento – a qual chamava de “o jardim do inferno” por causa de seu estilo peculiar. Tudo em vermelho, como ela tanto gostava.  Em 1989, estava bastante debilitada e praticamente cega.  Suas últimas palavras foram “Don’t stop the music or I’ll tell my father!”

Foi velada no Metropolitan Museum ao som de Rolling Stones, um final extravagante e fabuloso, exatamente como ela gostaria.

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+ Assista The Eye Has to Travel (tem no netflix!)

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